A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM EM CRIANÇAS SURDAS

O processo de aquisição da linguagem em crianças surdas é análogo ao processo de aquisição das línguas faladas e as seções estão subdivididas em quatro estágios, são eles:

Período pré-linguístico, estágio de um sinal, estágio das primeiras combinações e estágios das múltiplas combinações. 

O estabelecimento nominal, o sistema pronominal e a concordância verbal são fundamentais para o estabelecimento de relação no espaço.

PERÍODO PRÉ- LINGUÍSTICO

O balbucio é um fenômeno que ocorre em todos os bebês, sejam surdos ou ouvintes, como fruto da capacidade inata da linguagem. Os bebês surdos apresentam duas formas de balbucios manuais: o balbucio silábico e a gesticulação. 

O balbucio silábico apresenta combinações que fazem parte do sistema fonético das línguas de sinais e a gesticulação não apresenta organização interna. Os bebês surdos e os bebês ouvintes apresentam os dois tipos de balbucio até um determinado estágio e desenvolvem o balbucio de sua modalidade. 

As crianças surdas balbuciam oralmente até um determinado período. As vocalizações são interrompidas nos bebês surdos como as produções manuais são interrompidas nos bebês ouvintes. 

Portanto, as semelhanças encontradas na sistematização das duas formas de balbuciar durante a aquisição da linguagem em crianças surdas, sugerem que no ser humano há uma capacidade linguística que sustenta a aquisição da linguagem independente da língua: oral-auditiva ou espaço-visual.

ESTÁGIO OU ENUNCIADO DO SINAL

O estágio de um sinal inicia por volta dos doze meses na criança surda e percorre um período até por volta dos dois anos. Estudos mostram que a criança surda, filha de pais surdos, inicia o estágio de um sinal por volta de 6 meses, enquanto que uma criança ouvinte iniciaria a linguagem oral em torno dos 12 meses.

Se sabe que essa produção gestual inicial é relativa ao balbucio de crianças sem deficiência auditiva”. As crianças surdas, com menos de um ano, assim como as crianças ouvintes, apontam frequentemente para indicar objetos e pessoas. 

Você já observou esse comportamento em crianças? Quando a criança surda entra no estágio de um sinal, o uso de apontação desaparece. Porque nesse período parece ocorrer uma reorganização básica em que a criança muda o conceito da apontação inicialmente gestual (pré-linguística) para visualizá-la como elemento do sistema gramatical da língua de sinais (linguístico).

ESTÁGIO DAS PRIMEIRAS COMBINAÇÕES

Neste estágio, as crianças começam a usar o sistema pronominal, mas de forma inconsciente. As crianças surdas, neste caso, estão bem próximas das crianças ouvintes. 

Os pronomes EU e TU são identificados através da indicação propriamente dita, a si mesmo e aos outros. As semelhanças na aquisição do sistema pronominal entre as crianças surdas e ouvintes surgem como um processo universal de aquisição de pronomes, apesar da diferença radical nas modalidades. 

Por volta dos dois anos de idade, surgem as primeiras combinações. Há verbos em LIBRAS que não estão flexionados, como os articulados no corpo, para exemplos temos os sinais /GOSTAR / e / PENSAR/. 

Algumas combinações de sinais normalmente envolvem dois a três sinais. Exemplo: a) aula, ir (eu): vou à aula. b) três, brincar, aqui (eles): eles três brincam aqui.

A necessidade de adquirir novas palavras, como também qualidades, ações, relações, neste período, se deve ao fato de que agora ocorre o desenvolvimento do vocabulário e passagem da sinalização simpráxica à sinsemântica.

ESTÁGIO DE MÚLTIPLAS COMBINAÇÕES

Em torno dos dois anos e meio a três anos, as crianças surdas apresentam a chamada explosão de vocabulário. O domínio completo dos recursos morfológicos da língua é adquirido por volta dos cinco anos de idade. 

A Língua de Sinais tem característica espaço-visual e os componentes da estrutura da enunciação são organizados e localizados em espaços diferentes, frente ao corpo da pessoa que está sinalizando, a altura do tórax.

A criança surda ainda não usa o sistema pronominal indicativo especialmente para referir-se às pessoas e aos objetos que não estejam fisicamente presentes. 

Mesmo quando a criança apresenta alguma tentativa de identificação de ponto e espaço, ela apresenta falha de correspondência entre a pessoa e o ponto espacial. 

De três anos em diante, as crianças começam a usar o sistema pronominal com referências não presentes no contexto do discurso, mas ainda apresentam erros. Algumas crianças empilham os referentes não presentes em um único ponto de espaço e identificaram essa flexão generalizada dos verbos, nesse período com supergeneralização, considerando esse fenômeno análogo às generalizações verbais como ‘fazi’, ‘gosti’ e ‘sabo’ na língua oral. 

Por volta dos quatro anos as crianças ainda não utilizam o verbo corretamente. Quando a criança deixa de empilhar os referentes em um único ponto, elas estabelecem mais um ponto no espaço, mas de forma inconsistente, pois estabelecem associações entre o local e a referência, dificultando a concordância verbal. 

Entre os cinco e seis anos, as crianças utilizam os verbos flexionados de forma adequada. O uso do sujeito e objeto nulo torna-se comum neste período. Este estágio aprimora-se até que a criança sinalize como o adulto, internalizando todas as regras gramaticais da língua, construa os conceitos científicos.

A FAMÍLIA NO PROCESSO DE INCLUSÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Todas as pessoas encaram dificuldades e precisam superar barreiras a cada dia. Quem possui algum tipo de deficiência enfrenta ainda mais desafios e ter apoio é fundamental para seguir em frente e não desistir diante dos obstáculos. 

Em alguns tipos de deficiência, a dependência é muito grande desde o momento do diagnóstico, durante o tratamento, o prognóstico e as conquistas para a autonomia e independência. 

Uma criança com necessidades especiais precisa acima de tudo do apoio da família para que possa iniciar sua vida. A escola tem papel fundamental neste processo, mas é na família que ocorre o primeiro e mais importante ciclo de educação.

Família não se resume a pai, mãe e irmãos. Mas inclui avós, padrinhos, tios, primos e até mesmo os agregados. 

Não é uma questão sanguínea, mas de vínculos afetivos que transmitam confiança, já que em algumas situações, como em abrigos, por exemplo, os cuidadores fazem este papel. Com a participação ativa dos familiares, a reabilitação da pessoa com deficiência é efetiva e os resultados esperados em relação à autonomia são alcançados. 

O primeiro passo para participar do processo é conhecer a fundo o diagnóstico, os recursos e tecnologias disponíveis para não ficar focado apenas na deficiência. As limitações existem, mas não devem impedir a continuidade da vida.

Leia também: A escola de hoje e os alunos de sempre.

A SUPERPROTEÇÃO PODE SER MAIS DANOSO DO QUE A DEFICIÊNCIA

A família precisa ter uma referência para conseguir enxergar as possibilidades e evitar a superproteção. 

Fazer parte de grupos de apoio e conviver com outras pessoas com deficiência em eventos, associações e demais situações sociais viabiliza novas experiências. 

Estabelecer uma conexão direta com a escola é essencial para o suporte às ações pedagógicas e a relação com os professores. 

Este contato precisa ser frequente e próximo. Longe de ser dependente, uma criança com necessidades especiais precisa ser compreendida em sua totalidade.

Pessoas com deficiência podem ter uma qualidade de vida igual ou até melhor dependendo das oportunidades que são oferecidas a elas. 

O ideal é que a família e a própria pessoa procurem instituições especializadas na área da deficiência e até mesmo apoio psicológico, um reforço, já que não são todos que têm condições emocionais para o enfrentamento, seja do tratamento ou do processo de reabilitação.

Contudo, a família, sociedade e escola são agentes que devem caminhar em conjunto e articulados para a promoção das condições de vida das pessoas com algum grau de deficiência. 

Na escola, somos promotores da educação e inclusão. 

Sobre o autor,

empreendedor

Benício Filho – Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente também está concluindo o curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Palestrando desde 2016 sobre temas como Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência, já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.